A psicóloga Thayse Duarte explica como a despedida de uma artista amada aciona memórias pessoais, rituais sociais e debates sobre saúde emocional e saúde pública
A morte de Preta Gil, que enfrentava um câncer colorretal desde janeiro de 2023, gerou uma onda de comoção nacional. Tributos se multiplicaram nas redes sociais, músicas da cantora circulam nos streamings e fãs compartilham na internet fotos de experiências que tiveram com a artista. Esse fenômeno pode ser chamado de luto coletivo, observado também em outras mortes de artistas, como explica a psicóloga Thayse Duarte: “É um fenômeno complexo, um processo psicossocial que pode impactar toda uma comunidade que se identifica com a trajetória da figura pública falecida. É interessante pensar que o luto ativa memórias afetivas, que envolvem questões de pertencimento, rituais sociais, e deve ser encarado como um processo natural de elaboração da perda. O luto pode ter outros motivos principais, como a perda do emprego, o fim de um relacionamento, a perda de um animal de estimação, entre outros. Quando o luto é associado a uma figura pública de forma coletiva, não é apenas sobre essa pessoa, mas também sobre as representações emocionais e sociais que ela carrega em sua trajetória, formando um pensamento coletivo sobre o artista.”
O que é luto coletivo?
O luto coletivo é a experiência emocional e social desencadeada pela morte de uma personalidade pública, como uma artista, atleta, líder comunitário, comunicador, figura religiosa ou política, cuja trajetória impactou, direta ou simbolicamente, a vida de inúmeras pessoas. Diferente do luto íntimo (vivido por familiares e pessoas próximas), o luto coletivo acontece em espaços públicos, tanto on-line quanto off-line, envolvendo manifestações simbólicas que reforçam o sentimento de pertencimento a uma comunidade afetiva. Esse fenômeno reflete como a perda de ídolos e personalidades influentes, como Preta Gil, mobiliza emoções compartilhadas e expressões públicas de dor, unindo grupos diversos pela memória e pelo impacto cultural deixados por esses nomes conhecidos.
O papel das redes sociais no luto coletivo
As plataformas digitais transformaram a forma como vivemos o luto público. Em poucas horas, tributos se espalham, trechos de shows viram reels e fãs criam espaços de encontro virtual. Dezenas de artistas também compartilham o sentimento dos fãs e se unem a eles por meio de homenagens, como a cantora Ivete Sangalo e a atriz e amiga pessoal de Preta, Carolina Dieckmann. Essas manifestações podem dar a sensação de validação social da dor, mas é preciso ter cuidado para abordar o assunto com empatia aos familiares e amigos da figura pública falecida:
“As redes sociais ajudam a ampliar o alcance das manifestações sociais. Essa velocidade de expressão funciona como um espaço de homenagem, desabafo e solidariedade a outros que compartilham o mesmo sentimento, tudo dentro do simbolismo que envolve o luto coletivo. Mas é importante também ter atenção às pessoas mais próximas, familiares e amigos íntimos da figura pública falecida: o luto ainda é algo íntimo, privado e doloroso; por isso, é preciso ter senso de responsabilidade coletiva nas publicações para manter esse luto saudável.”
Sobre Thayse Duarte
Thayse Duarte é psicóloga e professora, especialista em Avaliação Psicológica e Psicologia Jurídica (CFP). Atua no Ministério Público da União – MPU, onde é Assessora Técnica Chefe em Perícias Psicossociais. Já integrou o Conselho Federal de Psicologia – CFP e a Universidade de Harvard (Boston, EUA), onde concluiu especialização em Resiliência Psicológica. Atualmente, ela ajuda centenas de alunos na plataforma Estratégia Concursos com aulas de psicologia voltadas para a atuação jurídica.
Thayse está disponível para entrevistas e participações em matérias que abordem diversos assuntos relacionados ao comportamento humano. Sua experiência permite explicações claras e acessíveis.