Considerações sobre relacionamento abusivo

por Maria Cecília Cintra Arruda

De acordo com levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 27% das denúncias de violência contra as mulheres de abril a março de 2020, em relação ao mesmo período de 2019. As queixas aconteceram pelo número 180.

A agressão física não é a única forma de violência contra as mulheres: há a psicológica, a sexual, a moral e a patrimonial. Todas elas são consequências de um relacionamento abusivo. Só que uma parcela das vítimas não consegue identificar que está vivendo esse

tipo de relação com seu companheiro.

Analisando a criação das mulheres, observei que é muito baseada em ser dependente de um homem, querer ser salva por ele e constituir família. Só que muitas não têm bons modelos, ou seja, um repertório saudável sobre relacionamento. É muito importante notar que existe um mito de que ciúme é um sinal de amor. Isso não é verdade. Muito ciúme não quer dizer mais amor, e sim que a pessoa está te manipulando

Então, o abuso pode culminar na violência física, mas ele começa com as formas verbal e psicológica. Esse abuso acontece pelo controle, E, em nome do amor – até porque foi ensinada que é necessário abrir mão de coisas para fazer o casamento dar certo –, ela vai se anulando.

Eu sou extremamente a favor de casamento e constituição de família, assim como acho maravilhoso, quem não quer nada disso. Temos que aprender a respeitar posições, e não vejo isso acontecendo. As mulheres entram em pânico se, em determinado momento da vida, ainda não casaram. Começam a correr contra o relógio como se isso fosse obrigatório.

E por que é tão difícil sair

de uma situação de abuso?

Quando a mulher tenta, não consegue. Criou uma dependência emocional. E aí, começa a ouvir do parceiro que, se ele não a quiser mais, ninguém vai querer também, porque ela é desinteressante… Se acontece uma traição, é o momento em que escuta “Você está louca, eu não fiz nada disso, está vendo coisa!”. No relacionamento abusivo, sofremos uma espécie de lavagem cerebral. Você passa a achar que é um ser dependente e que não consegue ficar sozinha.

Depois que a mulher se livra de um relacionamento abusivo, o que ela deve fazer para não entrar em outro? Possuímos uma tendência de repetir comportamentos. Mas, quando a gente consegue entender o padrão, fica mais fácil não ter recaída.!!!…

“Fechar para balanço”

Então, o primeiro passo é ‘fechar para balanço’, isto é, entender como funcionou aquela relação e avaliar o que você não quer mais para sua vida. Fique sozinha, procure amigas, vá se divertir, busque.um trabalho, estude e procure a ajuda da família e dos amigos.

E por fim, a população feminina tem que se proteger em primeiro lugar. A ideia que quero passar é essa. É complicado falar isso, porque parece que estou culpando a vítima. Pelo contrário: nunca se culpa a vítima, de maneira nenhuma!

amparo oferecido pelo Estado brasileiro para mulheres que sofrem violência doméstica funciona bem? Tem algo que acredita que precisa melhorar?  A gente possui muito contato com ONGs no programa, então dá para perceber que há uma mobilização maior. A população feminina tem que se proteger em primeiro lugar.

Maria Cecília Cintra Arruda é psicóloga, com foco em terapia sexual

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