Itamar Vieira Júnior, escritor premiado, revelou que foi para Jorge e Zélia Gattai que declarou o sonho de escrever romances
por Ramon Barbosa Franco, @ramonbarbosafranco
O 23 de abril concentra celebrações significativas. É a data de um dos santos mais admirados da Igreja Católica, o valente São Jorge, que nas religiões de matrizes africanas também é chamado de Ogum. ‘O compadre de Ogum’ é uma das narrativas escritas por Jorge Amado contidas no romance ‘Os Pastores de Noite’ – obra que em sua 37ª edição havia sido traduzida para 10 idiomas, entre eles o turco. O dia 23 de abril é também dedicado ao livro, aliás é o Dia Mundial do Livro, numa homenagem aos dois dos maiores gênios literários da humanidade: o inglês William Shakespeare e o espanhol Miguel de Cervantes. A data remeteria às mortes dos escritores que produziram ‘Romeu e Julieta’ (Shakespeare) e ‘Dom Quixote de La Mancha’ (Cervantes). Para Marília – cidade que tem nome inspirado em um poema – o 23 de abril de 2025 foi emblemático, pois na quarta pós-feriadão o principal escritor da geração de autores nascidos em 1979, Itamar Vieira Júnior, esteve na cidade.

Itamar compareceu como convidado especial da 10ª Semana Senac de Literatura, um evento que estimula o hábito de ler, valoriza a leitura e promove a troca de livros. Antes de iniciar a concorrida conferência – ministrada no anfiteatro da Ciesp (Centro da Indústria do Estado de São Paulo) de Marília, o escritor conversou com a reportagem do Diário de Notícias Marília e relembrou um momento emblemático de sua carreira: o dia em que foi recebido na Casa do Rio Vermelho, em Salvador – a mesma em que esteve o ator americano Jack Nicholson e o cineasta polonês Roman Polanski – pelo casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai. “Jorge já estava doente, mas ele conversou comigo”, recordou.
O jovem Itamar chegou ao endereço do maior escritor brasileiro em atividade até aquele momento – com obras várias adaptadas ao cinema, teatro e televisão, ‘Tieta do Agreste’ e ‘Gabriela’ consistem em algumas das telenovelas inspiradas na obra de Amado – trazendo consigo um exemplar de ‘Capitães da areia’ para ser autografado. “Ele recebeu o meu livro, autografou. Depois mostrou para a Zélia que o título estava errado na capa, era ‘Capitães da Areia’, e estava escrito ‘Capitães de Areia’. Meu Deus do céu! Ele já era idoso, já estava enfrentando problemas com a cegueira, mas esse momento para mim foi muito especial. Porque li a obra do Jorge, eu conheci o Jorge Amado pela obra dele. Foi um desses autores que me fez querer escrever também, e estar na casa dele naquele momento, um lugar que depois vim saber que congregou tanta gente, tantos intelectuais do Brasil e do mundo, foi muito especial. Pena que não tinha celular naquele momento para fazer uma selfie”, contou.
Mesmo que não tenha feito a selfie para o registro de momento antológico, a visita a Jorge e Zélia – que com o falecimento de Jorge, viria a substituí-lo na Academia Brasileira de Letras – o encontro ficou eternizado no coração, na mente e na alma de Itamar. Tanto que o escritor considerou aquele instante como o seu batismo literário.

Batismo de imaginação
“Um batismo de imaginação mesmo, porque os dois, tanto o Jorge e a Zélia, foram as primeiras pessoas que falei que eu escrevia, que eu era escritor. Que eu era escritor, não, que eu queria ser escritor. E eu ouvi incentivos, principalmente da dona Zélia, que estava muito ativa. Ela perguntou se eu li algum livro dela. E eu não tinha lido. Ela foi na estante e tirou ‘Anarquistas, graças a Deus’, e me deu. E aí foi um momento muito especial, que eu guardo com muito carinho. Ou seja, foi um bom começo”, relatou Itamar. ‘Torto Arado’, best-seller de Itamar, foi traduzido para 30 idiomas e venceu os principais prêmios literários do Brasil.
Crédito das imagens: Tiago de Moraes, @tiagomustache
Ramon Barbosa Franco, escritor e jornalista, é editor-chefe do Diário de Notícias Marília, autor dos livros ‘Contos do Japim’, ‘A próxima Colombina’, ‘Getúlio Vargas, um legado político’, ‘Canavial, os vivos e os mortos’, ‘Quatro patas, a história de Pituco’ (com Tiago de Moraes das Chagas), e ‘Nhô Pai, poeta de Beijinho Doce’ (com Ana Carolina Santiago).
