https://ultrarad.com.br/
https://ultrarad.com.br/

Sebastiana Rodrigues chega aos 90 anos  celebrando vitórias com amor aos filhos e dedicação à costura

por Ramon Barbosa Franco [texto e fotos]

Ainda com sua máquina de costura adquirida em 1956, ela relembrou histórias de superação, resiliência e esperança

Dos seus 5 filhos, uma não estará com ela neste domingo, dia 10 de agosto de 2025. Glória partiu aos 26 anos, após passar por uma cirurgia. Maria Regina, Dinorah, Tarcísio e Dener – todos filhos do seu primeiro matrimônio – vão ganhar de presente uma toalha bordada pelas mesmas mãos que desde os 16 anos lhe garantiu o pão nosso de cada dia. A partir do bordado e depois da costura, a filha de imigrantes espanhóis Sebastiana Rodrigues, que neste 10 de agosto chega aos 90 anos de idade, praticamente sustentou sua família, seus filhos e adquiriu imóveis, incluindo terras. “Para economizar deixava de fazer comida para mim e montava uma marmita para o marido levar na roça”, contou. 

O primeiro esposo, Miguel Prieto, era seu primo e com ele tiveram os cinco filhos. Conheceu Miguel assim que chegou em Marília, vinda de trem da região de Presidente Venceslau, na divisa de São Paulo e Mato Grosso do Sul, mas quando muitas das cidades que hoje existem por lá eram distritos ou vilas. Nascida em Água da Prata, perto de Marabá Paulista, no extremo Oeste do Estado de São Paulo, dona Sebastiana lembra que assim que seus pais chegaram nas terras, construíram uma casa de pau-a-pique, coberta por folhas de coqueiro. “Na primeira noite que pousamos lá, o veado veio e começou a comer as ramas do nosso teto”, disse. 

Aos 21 anos, um descendente de polonês se encantou com ela. E sim, ela era realmente uma jovem muito acima dos padrões de beleza. Sua foto de noiva não deixa qualquer dúvida – e garantida por dona Sebastiana – ‘feita sem qualquer maquiagem’. Os dois iriam se casar dali a 3 dias e todos os preparativos prontos, incluindo vestido e os docinhos da festa. “Ele ficava falando que iria colocar limites nas minhas amizades, que não iria deixar eu fazer isso e aquilo, até que naquele dia e me disse: ‘Olha, Sebastiana, quando a gente se casar na quinta-feira, você nunca mais vai colocar os pés aqui no sítio dos seus pais’. Bastou. Ela correu até os pais e disse que não queria mais saber de casamento, porque o noivo iria trancafiá-la em casa, jamais voltaria ver seus pais e a família. 

O pai assumiu a bronca e a levou embora dali. Na estação lembraram de uma família de primos em Marília, cidade que havia encantado a mãe de Sebastiana, Puranieto. Assim como o pai, Miguel Rodrigues, Puranieto era espanhola e os dois emigraram para o Brasil em 1896. Antes de irem para o extremo Oeste paulista, viveram em Pederneiras quando chegaram no Brasil. Só falavam espanhol e, por isso, o idioma ibérico é a primeira língua de dona Sebastiana. Mais tarde, aprendeu a falar o português, mas no tom e sotaque caipira. “Mas era bem caipira mesmo, assim: ‘nóis vai’, ‘nóis fumo’ e por aí”, recordou. 

Chegou em Marília e foi acolhida na família da prima. O primo novinho, Miguel, se encantou por ela e quis casar. Antes, o ex-noivo descobriu que Sebastiana estava em Marília e embarcou atrás. Acabou preso e na delegacia o doutor deixou muito claro: ‘Não tinha nada que vir atrás de moça que não queria mais casar com você. Volte para sua cidade!’. Casou com o primo, vieram os filhos e os desafios. Costurando, sustentou a família. O esposo perdeu certa vez o emprego e, como ela costurava para a esposa do diretor da fábrica da Antárctica, pediu oportunidade para o marido. Que foi aceito. A vida seguiu, o matrimônio não. Após mais de 25 anos, o casal se separou. 

Sebastiana ensinou o ofício de costureira para as filhas. Nessa altura, havia adquirido imóveis como forma de investimento do dinheiro que vinha das suas costuras e produção. “Num dia cheguei a fazer sozinha 3 calças. Começava bem cedo e costurava até bem tarde da noite”, lembrou. Teve um segundo relacionamento, marcado por passeios e bailes. Por quase 15 anos ficou com o segundo companheiro. Depois, preferiu ficar solteira – e segue assim. Além dos 5 filhos, teve 9 netos e 9 bisnetos. Viu o crescimento da cidade que a acolheu desde a década de 1950, pois onde antes era cafezal que o primeiro marido trabalhava carpindo, hoje é bairro urbanizado. 

Neste 10 de agosto de 2025, dona Sebastiana celebra 90 anos, comemorando a vida, o amor aos filhos e à gratidão ao trabalho de costureira. Além das lembranças, dos filhos, outra testemunha de sua história inspiradora está lá no seu ateliê: a máquina de costura adquirida em 1956.

Compartilhe esse conteúdo

LEIA
mAIS