Administrador de empresas e especialista em inteligência artificial, Érico Jorge Gomes, alerta para os riscos e vieses que comprometem a validade de dados coletados em ambientes digitais
Em uma era dominada pelas redes sociais, a tentação de usar plataformas digitais para coletar a opinião pública é grande. Contudo, o administrador de empresas Érico Jorge Gomes, que atua com pesquisas de opinião desde 1999, alerta para os perigos dessa prática. Segundo ele, as pesquisas realizadas por meio de links abertos e compartilhados em mídias sociais podem comprometer a validade dos resultados, levando a conclusões distorcidas e perigosas.
O principal problema, conforme explica Érico Jorge Gomes, é a completa falta de controle sobre quem responde. “Quando uma pesquisa é aberta por um link público, qualquer pessoa pode responder, inclusive várias vezes”, afirma. Isso cria um viés de autosseleção, onde apenas os indivíduos mais engajados ou motivados participam, sem que a amostra seja representativa da população. A isso se soma o “efeito de bolha”, onde o compartilhamento em grupos específicos desequilibra os dados, dando a impressão de que a opinião de um pequeno grupo é majoritária.
O especialista também menciona a influência social, onde as pessoas são levadas a responder de acordo com a opinião da maioria, em vez de expressar suas próprias crenças. Isso pode levar a um “comportamento em cascata” e a um “falso consenso”, onde os dados coletados não refletem a realidade. Além disso, Gomes destaca o risco de “manipulações e fraudes deliberadas”, com pessoas organizando mutirões de votos para direcionar os resultados de forma estratégica, o que mina a credibilidade de qualquer análise.
Diante desse cenário, Érico Jorge Gomes aconselha cautela. Ele sugere a adoção de práticas mais rigorosas para quem deseja obter dados de qualidade. “É preciso usar convites individuais com links únicos, definir bem a amostra que se quer ouvir e monitorar os dados em busca de respostas duplicadas ou padrões estranhos”, sugere o especialista. Ele reforça que a pressa na coleta de dados, especialmente em um ambiente tão volátil quanto o das redes sociais, pode comprometer toda a análise.
Gomes finaliza a sua análise com uma recomendação clara: “Pesquisas de opinião são ferramentas poderosas – mas só quando usadas com critério. Cuidado com os atalhos: em ciência de dados e tomada de decisão, a pressa pode distorcer mais do que ajudar”.
