https://ultrarad.com.br/
https://ultrarad.com.br/

A impetuosa pianista

crônica por Ramon Barbosa Franco

“Que tudo o que ofereço/É meu calor, meu endereço.” Desconheço um verso da MPB mais confessional do que este, concebido por uma impetuosa pianista verborrágica, a Ângela Ro Ro. Ela nos deixou nesta segunda-feira, dia 8 de setembro de 2025, aos 75 anos, no Rio de Janeiro. ‘Amor, meu grande amor’, sua obra-prima, tem tanto de legado quanto de sucesso atemporal. Reinterpretada pelo Barão Vermelho, a música marcou os anos 1990, e Roberto Frejat embalou muitos romances a partir de 1996.

Chamar Ângela de ‘impetuosa’ se encaixa em sua personalidade forte, marcante e sem papas na língua. Já “pianista verborrágica” faz alusão tanto ao seu talento com o piano — instrumento que a acompanhou em muitas de suas canções e shows — quanto à sua capacidade de se expressar de forma intensa e, muitas vezes, sem filtros, tanto nas letras quanto em entrevistas.

‘Impetuosa pianista verborrágica’ é, portanto, uma descrição poética bastante precisa das características que definiram a artista ao longo de sua carreira, que veio à tona em 1979 com um baita LP autoral. Neste álbum está “Amor, meu grande amor”, música assinada em parceria com a compositora Ana Terra. Totalmente autoral, o primeiro trabalho de Ângela foi crucial para os próximos capítulos de sua história.

‘Amor, meu grande amor/Me chegue assim/Bem de repente/Sem nome ou sobrenome/Sem sentir/O que não sente/Que tudo o que ofereço/É meu calor, meu endereço/A vida do teu filho/Desde o fim até o começo’. Intensidade e verdade, poesia e vida. Explosão e sentimentos. Talento e criação, quase vulcânica: isso é Ângela e sua ‘Ro-Rouca’ perfeita voz.

Afastada dos palcos, a artista — que na juventude fez um ‘mochilão’ pela Europa e na Itália conheceu o cineasta baiano Glauber Rocha — chegou a recorrer às redes sociais para que os fãs a ajudassem com o básico, pois passava por dificuldades financeiras. Uma triste realidade para grandes nomes de nossa cultura. Ao que parece, nesta lida, só mesmo a arte é que não trai o próprio artista.

Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’, ‘A próxima Colombina’, ‘Contos do Japim’, ‘Vargas, um legado político’, ‘Laurinda Frade, receitas da Vida’, ‘Quatro patas, a história de Pituco’, ‘Nhô Pai, poeta de Beijinho Doce’, ‘Dias de pães ázimos’ e das HQs ‘Radius’, ‘Os canônicos’ e ‘Onde nasce a luz’, [email protected]  

Compartilhe esse conteúdo

LEIA
mAIS

">