A polarização não é só na política

Artigo por Edson Dias Bicalho

O Brasil vem, cada vez mais, se tornando um país polarizado – e não é só na política. É na renda, principalmente!  Aqui, 1% mais rico ganha 38,4 vezes mais que os 50% mais pobres juntos!!! Essa desigualdade social enorme – e que só tem aumentado – é o que nos colocou no mapa da fome novamente e está nos levando para o buraco enquanto nação.

O Brasil é o segundo maior produtor de proteína animal do mundo, mas o brasileiro pobre só consegue comprar soro de leite (para substituir o leite), pele de frango e osso – e muitos nem isso conseguem! O Brasil é atualmente o maior produtor de soja do mundo – e um dos cinco maiores produtores de alimentos, mas cerca de 33,1 milhões de pessoas não têm o ter o que comer todos os dias. Esse número é quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020. Ou seja, a situação vem piorando rapidamente. A fome vem avançando sobre o País! 

Na sua clara jogada eleitoreira visando conseguir votos, o presidente Bolsonaro anunciou que vai aumentar o valor do Auxílio Brasil em R$ 200,00, mas isso não resolve nada por três motivos: 1) Não amplia o número de famílias atendidas (tem mais de 2,7 milhões na lista de espera); 2) Como ficarão as famílias a partir de janeiro, quando esse valor a mais acabar? e 3) Com a inflação galopante, principalmente nos alimentos, esse valor não vai significar mais comida na mesa do brasileiro pobre.

No Brasil do agro, com a inflação corroendo a renda todo mês, o trabalhador se vê obrigado a comprar feijão e arroz quebrado. Para se ter uma ideia, o brasileiro que ganha salário mínimo em junho gastou quase 60% da renda só para levar a cesta básica para casa. E o resto? Como paga? Como passa o mês?

Agora dizem que a conta de luz vai ficar mais barata, mas na verdade apenas vai parar de subir porque vão devolver PIS/Confins cobrado a mais de consumidores. E, mesmo assim, o Brasil tem a eletricidade mais cara do mundo! Estudos mostram que 10% da renda familiar vai para pagar energia. Para quem gastou 60% com o básico da comida, o que sobra para o aluguel, o transporte, a saúde, a água e todo restante?

Como parte de seu esquema para conseguir votos, agora o governo anuncia redução no preço da gasolina. O cálculo é que, em 2022, a queda seja de 8%, mas acumula alta de 40% no governo Bolsonaro. Do que adianta? E não há como fugir dos combustíveis. Quem não tem carro, precisa de transporte público e paga por combustível nos alimentos e em tudo o que consome.

E não venha dizer que o Auxílio Caminhoneiro, que Bolsonaro anunciou para tentar se reeleger, vai ajudar o brasileiro. É um auxílio para poucos e sem mecanismo para que seja repassado na cadeia de bens e serviços e venha a baratear produtos.

Tudo vai seguir muito caro! É preciso iniciar um movimento de mudança dos pilares da economia e da política brasileira que geram essas desigualdades. E o momento é agora nas próximas eleições. Não dá mais para assistirmos paralisados ao Brasil afundando na miséria.

Edson Dias Bicalho é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e da Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Biocombustível de Bauru e Região (Sindquimbru) e secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar).

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