Localidade histórica possui restaurante tradicional e teria recebido na década de 1870 a visita do então imperador Dom Pedro II
por Ramon Barbosa Franco
Em 24 de março de 1891 a então freguesia de Conceição do Monte Alegre, no território paulista que viria a ser a cidade de Paraguaçu Paulista – a 80 quilômetros de Marília – chegava à condição de distrito. Foram quase 20 anos de espera para alcançar este reconhecimento, já que o povoado havia sido fundado em 1873 pelo pioneiro José Teodoro de Sousa, responsável pela doação de quase 200 hectares de terra para a instalação de um novo patrimônio. Teodoro é uma figura histórica na ocupação e povoação do Oeste do Estado de São Paulo e sua vida é recheada de lendas e causos. Dizem que ele teria comprado um escravo para que lhe tocasse viola e interpretasse canções e cantigas da época.
Da mesma forma, o hoje distrito rural de Conceição do Monte Alegre, preserva em sua essência muitos mitos e causos. De 1896 a 1933 serviu como sede do município de Paraguaçu Paulista, atualmente estância turística e que há uma semana celebrou o seu primeiro centenário. Quando ‘subiu’ à condição de patrimônio, o distrito pertencia à ‘megacidade territorial’ de Campos Novos do Paranapanema, cuja jurisdição se assemelhava à extensão de Estados e nações europeias. Ainda desvinculada de Campos Novos, Conceição do Monte Alegre – que popularmente só é chamada de Conceição – passou a deter também uma vasta área territorial, entre os rios Paranapanema, do Peixe e o Paraná, mais a Oeste do Estado, na então divisa com o Mato Grosso.
Entre os mitos do distrito, inclusive carecendo de confirmação histórica, há relato de que o então imperador do Brasil, Dom Pedro II, numa viagem oficial à província de Mato Grosso teria pernoitado com a sua comitiva em Conceição. Isso na década de 1890, quando ainda havia Monarquia no país.
Outro fato inusitado relatado por antigos moradores do distrito teria a ver com um dos seus primeiros padres católicos que passaram por lá. Dizem que um desses religiosos optou por casar com uma moradora. Constituiu família, teve filhos, mas sem jamais deixar de celebrar missas, o que é contrário aos princípios da Igreja Católica, que proíbe religiosos de contrair matrimônio. Mesmo casado, teria mantido a autoridade, respeito e seguido a sua missão de fé.
Disco-voador e ET’s em Conceição
Outra lenda muito popular, difundida principalmente a partir da década de 1970, é que, numa noite, um disco-voador caiu num dos restaurantes do distrito. Os clientes estavam jantando e a nave – talvez por problemas técnicos – pousou no telhado. À época, a estrutura do imóvel era de bambu e parte do prédio ruiu. Moradores também teriam presenciado esta ocorrência de OVNI (objeto voador não-identificado). O mistério se os ET’s estiveram ou não em Conceição continua e hoje o distrito possui apenas um restaurante, inclusive referência da gastronomia regional.

O que teria mudado o destino de Conceição – que com vastas áreas territoriais e toda uma estrutura urbana que vinha sendo constituída desde a década de 1890 – não foi a chegada do disco-voador, mas de algo bem humano: o trem. Ao invés de ser construída na então sede do município – ou seja, em Conceição – a estação da linha de ferro foi erguida a quase 10 quilômetros de distância da igreja que teria tido um padre casado, na área que fora chamada de ‘Moita Bonita’. ‘Moita Bonita’ passou a ser chamada de Paraguassu – assim, com dois Ss. Isso em 1916. Inclusive o primeiro trem que passou por lá partiu de Bernardino de Campo e inaugurou os recém-instalados trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana. O fato foi noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Conceição do Monte Alegre hoje encontra-se bem urbanizada, com ruas asfaltadas e casas de alvenaria. Restam poucos imóveis com o aspecto tradicional do distrito.
Crédito da imagem: Tiago de Moraes das Chagas
Ramon Barbosa Franco, 45 anos, é jornalista e escritor nascido em Paraguaçu Paulista (SP). Em 12 de julho próximo lançará em Conceição do Monte Alegre a biografia do compositor e poeta João Alves dos Santos, o Nhô Pai (1912-1988), autor de ‘Beijinho Doce’ (escrita em parceria com a escritora e poeta Ana Carolina Santiago). O músico nasceu no bairro da Bomba, em Conceição.