Marisa Lajolo e Regina Zilberman discutem literatura infantil brasileira

Livros para crianças e jovens representam um gênero muito específico da literatura, seus títulos alcançam altíssimas tiragens e têm um público-alvo bastante definido. Ao longo de seus poucos séculos de existência, a literatura infantil muitas vezes antecipa procedimentos que posteriormente se manifestam na literatura não infantil. Por tudo isso, vêm da teoria literária os instrumentos para comentar, discutir e analisar esta vertente da literatura. É aí que entram as pesquisadoras Marisa Lajolo e Regina Zilberman em Literatura infantil brasileira: história e histórias, lançamento da Editora Unesp que ajusta lentes para enxergar a literatura infantil de perto, sem deixar de aproximá-la de outras histórias: a do Brasil e a da literatura brasileira como tal.

“Redigido entre 1982 e 1983, este livro foi publicado pela primeira vez em 1984. A essa primeira edição seguiram-se muitas outras, com alguma atualização e correções, mas sem alterações no conteúdo, nem na perspectiva”, explicam as autoras. “Nesta nova versão, perspectiva e conteúdo foram preservados, mas introduziram-se algumas mudanças para as quais chamamos sua atenção. O conteúdo permanece igual: o livro traça a trajetória da literatura destinada a crianças desde as últimas décadas do século XIX, literatura essa predominantemente escrita por autores e autoras nacionais. Examinando atualmente o panorama da história & história que então contamos, cabe buscar um olhar renovado para interpretá-lo: o corpus, como seria de se esperar, aumentou quantitativamente, alcançou maior robustez e ampliou o alcance de seus temas e formas de manifestação. Além disso, também se ampliou a bibliografia que se debruça sobre literatura infantil.”

Ao longo de nove grandes eixos, as autoras examinam a literatura infantil brasileira sob o prisma historiográfico, calcadas na cronologia fundada nos períodos decorrentes dos aspectos que os livros publicados em determinada faixa de tempo trazem em comum. Do século XIX aos dias que correm, o leitor encontrará neste livro farto material de apresentação, análise e crítica de autores e obras que construíram e continuam construindo a história da literatura infantil brasileira.

“De certo modo, a literatura infantil representa a face material da literatura enquanto objeto artístico. Não que seja despojada de ideais e de esforço no sentido da inovação e do experimentalismo; mas o faz de olho no seu público – adulto e infantil, escolar, familiar, individual – porque ela é nomeada desde o lugar de seu destinatário”, anotam Lajolo e Zilberman. “A literatura, mesmo quando não acompanhada de algum adjetivo (infantil, policial, feminina, afro-brasileira), a (digamos) literatura tout court, dirige-se efetivamente a um outro, e é essa alteridade que deveria qualificá-la. Despojá-la de um qualificativo não a torna mais independente, e é essa condição que a literatura para crianças e jovens denuncia.”  

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