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Para além da música caipira: exposição mostra as várias faces de Inezita Barroso

Com direito a mesas-redondas e atividades paralelas, mostra do Instituto de Estudos Brasileiros da USP trará elementos e discussões referentes ao acervo, à vida e à carreira da cantora, atriz, musicóloga e bibliotecária paulistana, falecida em 2015

Jornal da USP

Centenas de LPs, partituras musicais e livros, milhares de fotografias, roteiros de programas de TV e até um violão assinado por figuras históricas da política e da cultura brasileiras. Esses são apenas alguns dos itens que compõem o acervo de Ignez Magdalena Aranha de Lima, a Inezita Barroso (1925-2015), que foi doado ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP por sua filha, Marta, em 2018, transferido para o local em 2023 e organizado no início deste ano, como noticiou o Jornal da USP (leia aqui). Agora, no ano em que Inezita completaria cem anos, a vasta coleção de materiais será exposta no IEB a partir desta quarta-feira, dia 27, e ficará em cartaz até 7 de novembro. “O IEB tem uma prática que é fazer como se fosse uma saudação quando chega um novo acervo, uma maneira de adiantar para as pessoas o que o IEB recebeu e de agradecer aos doadores”, comenta a professora do IEB Flávia Toni, musicóloga e curadora da exposição, que tem curadoria-adjunta da chefe do arquivo do IEB, Dina Uliana.

Além dos roteiros, o acervo traz álbuns de recortes, nos quais a musicóloga registrava sua atividade artística. São, ao todo, mais de 3 mil fotografias, 850 livros, 600 LPs (Long Plays) e 300 partituras musicais impressas, além de contratos de trabalho e de itens pessoais, como um violão branco modelo Del Vecchio assinado por nomes como o do ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitschek (1902-1976), do cantor e compositor Luiz Gonzaga (1912-1989) e de Eduardo Moreira (1917-1998), ex-diretor do programa Viola, Minha Viola, da TV Cultura de São Paulo, apresentado por Inezita entre 1980 e 2014.

Formada em 1946 na primeira turma de Biblioteconomia da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, Inezita utilizou muito do que aprendeu como bibliotecária para preservar e catalogar seu próprio acervo.

Embora o acervo tenha sido doado pela filha de Inezita, quem cuidou dele e o organizou foram os jornalistas Aloisio Milani e Alexandre Pavan, que trabalharam ao lado da atriz nos últimos dez anos dela na TV Cultura. “Eles ajudaram na tramitação burocrática para que o acervo viesse para o IEB”, explica Flávia.

Cantoria e Musicologia no Acervo de Inezita Barroso, como se chamará a mostra, contará também com uma programação de atividades paralelas. Nesta quarta-feira, dia 27, às 16 horas, a palestra de abertura da mostra será feita pelo sociólogo, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e membro da Academia Paulista de Letras José de Souza Martins. Nela, Martins deve discutir as diferenças de conceitos envolvendo a música caipira e a música sertaneja, estilos ligados à carreira de Inezita. Depois da palestra, às 18 horas, haverá uma apresentação musical do cantor Pedro Novas Cunhas Figueiredo, acompanhado pelo pianista Wellington P. A., que trabalhou com Inezita.
Mulher de óculos e cabelos grisalhos curtos.

Nos dias 10 e 12 de setembro, sempre às 16 horas, serão realizadas duas mesas-redondas. A primeira, no dia 10, com o tema Pesquisa e Cantoria, terá a participação da antropóloga Maria Laura Cavalcanti, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e da cantora, violeira e pesquisadora Priscila Ribeiro. A mediação será de Flávia Toni. A outra mesa-redonda, no dia 12, terá como tema Nos Bastidores dos Programas e do Acervo. Vão participar dela os jornalistas Aloisio Milani e Alexandre Pavan e a documentalista Elisabete Ribas, do IEB. Segundo Flávia, Milani, Pavan e Ribas são os “anjos da guarda” do acervo. “Foram os três que zelaram para que o acervo chegasse, e bem, aqui ao IEB.”

Flávia Toni revela ainda que Aloisio Milani está preparando um documentário sobre Inezita, a partir de um show feito pela cantora em 1969, que nunca foi mostrado. O documentário ainda está sendo editado para poder ser visto pelo público no espaço expositivo do IEB, durante a exposição.

Os últimos dois eventos paralelos à mostra acontecerão nos dias 17 e 26 de setembro. No primeiro, às 16 horas, o cantor e violeiro Pedro Vaz exibirá um documentário que mostra vários momentos de Inezita Barroso nos últimos anos de sua vida, cantando e conversando. Vaz trabalhou com Inezita quando ela comandava o programa Estrela da Manhã, na Rádio Cultura Brasil, nos anos 1990.

O outro evento paralelo, no dia 26, às 16 horas, será a exibição do filme Mulher de Verdade, no Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), instalado no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária. Dirigido por Alberto Cavalcanti e lançado em 1954, o filme é estrelado por Inezita e lhe rendeu o Prêmio Governador do Estado de Melhor Atriz. Segundo Flávia Toni, o longa foi emprestado pela Cinemateca Brasileira, por meio do professor Eduardo Morettin, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a fim de ser exibido na exposição.

Acervo plural como Inezita

Para Flávia, a pluralidade de Inezita como profissional se reflete no acervo. “Ela era uma mulher que não era só musicóloga e também não era só cantora. Ela fazia todas essas atividades. Então, vamos mostrar aqueles dados que fazem parte do perfil de uma mulher com tantas atividades como ela. A ideia é abordar um pouco de tudo.” A curadora destaca como grande diferencial a ser exposto os scripts (roteiros) de programas de rádio e televisão, escritos e reunidos por Inezita. “Essa parte é bastante diferente para as pessoas que trabalham na área de música escrita, ainda que possa ser muito comum nos acervos de pessoas do campo do audiovisual. Nesse sentido, esses scripts podem, de fato, constituir uma novidade.” Segundo Flávia, o acervo de Inezita Barroso é o primeiro do IEB a conter scripts.

Fonte: Jornal da Universidade de São Paulo (USP)

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